venres, 1 de outubro de 2021

Rosa Branco: Poemas para escolha.



Onde não haja eira nem jeira
nem folha de figueira
nem pedra de sal
nem coisa que faça mal
só um raminho de vento
para nos salvar.



Dormíamos por cima das galinhas
à beira das pombas
das pilhas de lenha que chegavam à janela
com os cheiros de maio.
Às vezes um trovão
fazia o santo levantar da cama
tomar o café à pressa
meter-se ao caminho para afastar a tempestade
do medo dos coelhos e da avó.
Lembro-me da trança balouçando
à luz da lamparina
da prece espalhada pelo quarto
e eu encolhida no calor da cama
para não ouvir ladrar os cães da noite
sem saber que um santo os levava para lá do monte
onde nunca houve eira nem jeira
nem folha de figueira
nem o tempo que nos conta os dias
só um ramo de vento que floresce à janela
por entre a cinza da madeira
e o amor da Avó.


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