sábado, 20 de xullo de 2019

Adão, o agiota

 Aquele rapazola de feições um tanto rapaces, imbuído nuna espécie de misticismo pelas coisas de dinheiro, o misteiro apaixonante da compra e venda, era-lhe bastante grato. Porque acontecera ser o sétimo rapaz duma família, fora baptizado como o nome de Adão, para evitar assim correr o fado, ou seja ficar condenado a vaguear de note, transmformado em bácoro, ou cavalo, ou bode, ou toiro, em cujo rasto espolinhado se espojasse. Ah, e então apenas uma labareda, à meia-noite, consumindo-lhe as roupas que abandonou, um espinho ou um chuço ferindo que o bicho que corre desabaladamente pelos atalhos, podem quebrar o encanto! Melhor é chamar, pois, Eva às quintas ou sétimas filhas, e que Adão sejam os infantes todos que venham perfazer esses fatídicos números. Este Adão, apesar  do esconjuro do baptismo, nunca ressecara de todo a sua natureza infernal, a recordação do barro, do limo, do caos feito idade do ouro; era abominavelmente, clamorosamente agiota. Contava-se que seu avó, um desses  usurários tenebrosos que trescalam à miséria de quantos lhes deixaram nas unhas uma onça de ouuro ou de pele, possuía uma rasa de libras que costumava expor ao sol, gozando-lhe os fulgores em dias soalheiros.

Agustina Bessa Luís: A sibila (p. 40)

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